Consequências da Destruição do Segundo Templo e de Jerusalém

Após a destruição de Jerusalém em 70 d.C., a cidade e seu povo passaram por profundas mudanças e um período de grande turbulência. A destruição marcou o fim da Primeira Revolta Judaica contra os romanos e teve consequências duradouras tanto para os judeus quanto para a própria cidade. Aqui estão alguns dos principais eventos e transformações que ocorreram após a destruição:

1. Destruição física e despovoamento

A cidade de Jerusalém foi praticamente arrasada. O Templo foi completamente destruído, e muitos dos edifícios e estruturas urbanas foram derrubados ou incendiados. A maior parte da população que não foi morta durante o cerco foi levada como escrava. De acordo com Flávio Josefo, centenas de milhares de judeus morreram ou foram capturados pelos romanos.

2. Fim do Templo e das práticas do culto judaico

A destruição do Segundo Templo teve um impacto devastador no judaísmo, pois o Templo era o centro da vida religiosa judaica, onde se realizavam os sacrifícios e cerimônias essenciais. Sem o Templo, a prática do judaísmo teve que se transformar. Os sacerdotes perderam seu papel central, e o culto baseado no sacrifício foi substituído por uma forma mais descentralizada de adoração, centrada nas sinagogas e no estudo da Torá.

3. O exílio e a diáspora judaica

A destruição de Jerusalém marcou o início de um longo período de dispersão judaica (a Diáspora). Embora já houvesse comunidades judaicas fora da Palestina, a destruição acelerou a migração de judeus para outras partes do Império Romano, como a Babilônia, Egito, Norte da África e Europa. Muitos judeus se estabeleceram em novas comunidades, levando consigo sua fé e cultura.

4. Revolta de Bar Kokhba (132–135 d.C.)

Cerca de 60 anos após a destruição, houve uma segunda grande revolta judaica contra os romanos, conhecida como a Revolta de Bar Kokhba (132–135 d.C.). Essa revolta também resultou em uma derrota devastadora para os judeus. Após a revolta, o imperador romano Adriano implementou medidas ainda mais severas:

• Proibição de entrada dos judeus em Jerusalém: Adriano proibiu os judeus de entrar na cidade, exceto no dia de Tisha B’Av, o dia de luto pela destruição do Templo.
• Mudança de nome de Jerusalém: Adriano renomeou Jerusalém como Aelia Capitolina e transformou a cidade em uma colônia romana. O nome Aelia vinha de seu próprio nome de família, Aelius, e Capitolina referia-se ao Monte Capitolino em Roma, dedicado a Júpiter.
• Mudança no nome da província: A província da Judeia foi renomeada como Síria Palestina (ou Palestina), em um esforço para apagar as conexões judaicas com a terra e associá-la aos filisteus, antigos inimigos dos judeus.

5. A reconstrução de Jerusalém como cidade romana

Sob o domínio romano, Jerusalém foi reconstruída, mas como uma cidade romana, não judaica. A partir do reinado de Adriano, templos pagãos foram erguidos no local do Templo judeu, incluindo um templo dedicado a Júpiter no Monte do Templo. A cidade foi dotada de infraestruturas típicas de uma cidade romana, como um fórum, estradas e banhos públicos. Judeus foram amplamente proibidos de viver na cidade, com exceção de um breve período anual.

6. Cristianismo em Jerusalém

Durante o século IV, com a conversão do imperador romano Constantino ao cristianismo e o subsequente Édito de Milão (313 d.C.), que legalizou o cristianismo no Império Romano, Jerusalém começou a adquirir importância como um centro cristão. Constantino e sua mãe, Helena, patrocinaram a construção de igrejas em locais sagrados cristãos, incluindo a Igreja do Santo Sepulcro, que foi construída onde se acreditava que Jesus havia sido crucificado e sepultado.

7. A herança duradoura da destruição

A destruição de Jerusalém em 70 d.C. e a subsequente transformação da cidade sob domínio romano tiveram um impacto profundo e duradouro na história religiosa e política, tanto do judaísmo quanto do cristianismo:

• Judaísmo Rabínico: Com o fim do Templo e da prática dos sacrifícios, o judaísmo passou por uma grande transição. Os rabinos, reunidos em lugares como Yavne (Jâmnia), reformularam a religião para se concentrar no estudo da Torá, na oração e nas práticas comunitárias, resultando no desenvolvimento do judaísmo rabínico, que se tornou a forma predominante de judaísmo pelos séculos seguintes.
• Liturgia e luto judaico: A destruição do Templo passou a ser lamentada anualmente pelos judeus na data de Tisha B’Av, um dia de jejum e oração que marca também outros eventos trágicos na história judaica, como a destruição do Primeiro Templo. A oração diária e os rituais do judaísmo rabínico incorporam constantemente a lembrança da destruição do Templo, mantendo viva a esperança de sua reconstrução.
• O cristianismo: A destruição do Templo também foi vista por alguns grupos cristãos como um evento de grande significado teológico. Muitos cristãos interpretaram a destruição como um cumprimento das profecias de Jesus sobre a queda de Jerusalém, o que fortaleceu a crença no cristianismo emergente. No século IV, Jerusalém se tornou um importante centro de peregrinação cristã, especialmente após a construção de igrejas como a Basílica do Santo Sepulcro, sob a direção do imperador Constantino.
• Significado geopolítico: A destruição de Jerusalém e a subsequente dispersão dos judeus (Diáspora) marcaram o início de um longo período de afastamento dos judeus de sua pátria histórica. Embora houvesse uma presença judaica residual na Terra de Israel, a maioria dos judeus vivia em comunidades espalhadas por todo o Império Romano e além, até o retorno em massa no século XX com a fundação do Estado de Israel em 1948.

Assim, a destruição de Jerusalém em 70 d.C. não foi apenas um evento devastador de seu tempo, mas teve repercussões históricas, teológicas e culturais que moldaram o desenvolvimento do judaísmo, do cristianismo e da própria cidade ao longo dos séculos.

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