Destruição do Segundo Templo de Jerusalém

O Segundo Templo de Jerusalém foi destruído no ano 70 d.C. pelos romanos, durante o cerco de Jerusalém na Primeira Revolta Judaica. A destruição foi ordenada pelo futuro imperador Tito e marcou o fim do Templo como o centro do culto judaico, um evento de grande significado histórico e religioso.

Após meses de resistência judaica contra as forças romanas, a cidade foi invadida e saqueada. O exército romano, sob o comando de Tito, destruiu a maior parte da cidade, incluindo seus muros e edificações. Grande parte da população foi morta ou levada como prisioneira.

A destruição de Jerusalém marcou o fim da Primeira Revolta Judaica contra o Império Romano e teve um impacto profundo na história judaica, levando à dispersão dos judeus (a Diáspora) e à perda do Templo, que era o centro religioso e cultural do povo judeu na época.

Destruição do Segundo Templo de Jerusalém no ano 70 d.C – Fontes Históricas

A principal fonte histórica que descreve a destruição do segundo Templo de Jerusalém no ano 70 d.C. é o historiador judeu-romano Flávio Josefo (Josephus). Ele foi um testemunho ocular dos eventos e escreveu extensivamente sobre a Primeira Revolta Judaica contra o Império Romano em sua obra A Guerra dos Judeus (Bellum Judaicum).

Josefo foi inicialmente um comandante das forças judaicas na Galileia, mas acabou se rendendo aos romanos e servindo como intermediário e cronista para o general Tito, que mais tarde se tornou imperador. Suas descrições são uma das principais fontes contemporâneas sobre o cerco de Jerusalém, a destruição do Segundo Templo e os eventos associados à guerra.

Em A Guerra dos Judeus, Josefo relata detalhadamente como os romanos cercaram Jerusalém, os intensos combates dentro da cidade, a fome que assolou seus habitantes e a eventual destruição do Templo, que foi incendiado pelos soldados romanos, apesar dos esforços iniciais de Tito para preservá-lo. Josefo descreve também a destruição dos muros e edifícios da cidade, além das terríveis consequências para os habitantes.

Relato de Flávio Josefo sobre a destruição do Segundo Templo de Jerusalém

Trecho do relato de Flávio Josefo sobre a destruição do Templo e de Jerusalém, extraído de sua obra A Guerra dos Judeus (Livro VI, capítulos 4-5). O texto original é longo e detalhado, então apresento aqui uma versão resumida de suas observações sobre o evento:

“O Templo estava em chamas, e o monte inteiro que circundava o templo ressoava com os gritos; e você teria pensado que a colina estava fervendo de baixo para cima, tão intensa era a conflagração que consumia tudo. Os romanos, empurrando os derrotados que tentavam escapar do incêndio, mataram a todos que cruzavam seu caminho e o sangue corria como rios no solo. As chamas não pouparam nada, e a beleza incomparável do Templo foi consumida no incêndio.

Os próprios romanos, diante da magnitude da destruição, expressaram lamentos, pois não esperavam que algo tão grandioso e de valor histórico incalculável fosse tão rapidamente aniquilado.

Enquanto o Templo queimava, os rebeldes fugiram em todas as direções, desesperados. Alguns se jogaram nas chamas, preferindo morrer ali do que cair nas mãos dos romanos. Outros correram para as ruas da cidade, onde não encontraram qualquer refúgio, pois os romanos estavam em toda parte, matando indiscriminadamente.

Jerusalém foi reduzida a escombros. Não apenas o Templo, mas todos os grandes edifícios da cidade foram derrubados. As ruas ficaram desertas, e as poucas pessoas que sobreviveram foram levadas como prisioneiras ou morreram de fome.”

Josefo também descreve a extensão da destruição e o horror vivenciado pela população:

“A cidade inteira estava em chamas, as muralhas desmoronadas, e não restava praticamente nenhum edifício em pé. O massacre foi tão grande que o número de mortos era incontável, e os romanos não pouparam ninguém, jovens ou velhos. Mais de um milhão de judeus pereceram na guerra, e milhares foram levados como prisioneiros ou vendidos como escravos. Os sacerdotes, que haviam servido no Templo, foram mortos junto com o restante da população. Assim, o esplendor de Jerusalém foi apagado da terra.”

Esse relato de Josefo é uma das descrições mais detalhadas e impactantes que temos sobre a destruição de Jerusalém e do Segundo Templo, fornecendo um testemunho de primeira mão dos horrores do cerco e da queda da cidade.

Outras Fontes Históricas da Destruição do Segundo Templo

Além de Flávio Josefo, existem algumas outras fontes históricas que fazem menção à destruição de Jerusalém e do Segundo Templo, embora elas sejam mais limitadas em comparação com os relatos detalhados de Josefo. Aqui estão algumas dessas fontes:

Tácito (Historiador Romano)

O historiador romano Públio Cornélio Tácito, em sua obra Histórias (Historiae), também faz referência à destruição de Jerusalém durante a Primeira Revolta Judaica. Tácito era contemporâneo dos eventos e, embora suas obras não tenham o mesmo nível de detalhe que os escritos de Josefo, ele fornece um panorama romano dos acontecimentos. Ele menciona o cerco e a destruição da cidade por Tito, bem como o grande número de mortos. No entanto, muitos dos escritos de Tácito sobre esse período se perderam, então o que temos sobre Jerusalém é fragmentário.

Um dos trechos que sobreviveu (Histórias, Livro V) descreve os judeus e a cidade de Jerusalém, referindo-se à revolta judaica e à resistência oferecida contra os romanos.

Sêneca e outros escritores romanos

Embora Sêneca, o filósofo romano, não tenha descrito diretamente a destruição de Jerusalém, alguns escritores e figuras romanas do mesmo período mencionam a Revolta Judaica e o cerco de Jerusalém em termos gerais, como parte dos conflitos no Império Romano. No entanto, essas menções são geralmente breves e não fornecem detalhes substanciais.

O Talmude e outros textos judaicos

O Talmude, especialmente o Talmude de Jerusalém (Yerushalmi) e o Talmude da Babilônia, contém referências à destruição do Segundo Templo e aos eventos que seguiram. Embora o Talmude seja principalmente um conjunto de textos religiosos e legais, ele preserva tradições orais que se referem à destruição do Templo como uma catástrofe central na história judaica. Essas tradições muitas vezes atribuem a destruição à corrupção dentro do próprio povo judeu, vendo o evento como uma consequência espiritual, além de militar.

A tradição cristã

Embora não sejam fontes estritamente históricas, os Evangelhos do Novo Testamento contêm profecias atribuídas a Jesus que fazem referência à destruição de Jerusalém. Por exemplo, em Mateus 24:1-2, Jesus profetiza a destruição do Templo: “Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada”. Os Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) contêm referências à destruição iminente de Jerusalém, mas não são relatos históricos diretos dos eventos de 70 d.C., uma vez que foram escritos antes ou pouco tempo depois dos eventos.

Eusébio de Cesareia (Historiador cristão)

Como mencionado anteriormente, Eusébio de Cesareia, em sua História Eclesiástica (século IV d.C.), também menciona a destruição de Jerusalém. Ele relata a fuga dos cristãos para Pella e interpreta a destruição do Templo como o cumprimento das profecias de Jesus. Embora Eusébio não seja uma testemunha ocular, ele se baseia em tradições cristãs e fontes anteriores, incluindo Josefo.

Literatura Apocalíptica Judaica

Alguns textos judaicos apocalípticos escritos por volta da época da destruição do Templo, como o Quarto Livro de Esdras e o Apocalipse de Baruque, refletem a angústia do povo judeu após a queda de Jerusalém e o Templo. Embora esses textos sejam mais interpretativos e teológicos, eles fornecem uma visão sobre como os judeus da época lidavam espiritualmente com a catástrofe.

Arqueologia

Além das fontes escritas, a arqueologia tem fornecido evidências substanciais sobre a destruição de Jerusalém. Escavações na cidade antiga revelaram ruínas, escombros e sinais claros do incêndio que consumiu partes de Jerusalém durante o cerco romano. Achados como as ruínas do complexo do Templo e artefatos de guerra (pontas de flechas e balistas) oferecem um suporte arqueológico ao que foi descrito por historiadores como Josefo.

A Destruição do Segundo Templo e os Primeiros Cristãos

Os primeiros cristãos, na época da destruição do Segundo Templo, eram em sua maioria judeus convertidos ao cristianismo, e muitos deles ainda viviam em Jerusalém ou nas proximidades. No entanto, de acordo com algumas tradições cristãs e relatos históricos, grande parte dessa comunidade já havia deixado a cidade antes do cerco romano.

Fuga para Pella

Uma das tradições mais conhecidas diz que muitos cristãos, baseando-se nas palavras de Jesus, que teria profetizado sobre a destruição de Jerusalém, fugiram da cidade quando perceberam o aumento das tensões e o iminente ataque romano. Jesus, segundo o relato nos Evangelhos, teria advertido seus seguidores para que fugissem quando vissem sinais de perigo para a cidade:

“Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei que está próxima a sua desolação. Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes, e os que estiverem dentro da cidade, retirem-se.” (Lucas 21:20-21)

De acordo com os escritos de Eusébio de Cesareia, um dos primeiros historiadores da igreja cristã, muitos cristãos de Jerusalém seguiram esse aviso e fugiram para a cidade de Pella, na região da Decápolis, ao leste do rio Jordão (hoje parte da Jordânia), antes do cerco romano em 70 d.C. Isso teria permitido que boa parte da comunidade cristã primitiva evitasse a destruição e o massacre que ocorreram durante o cerco e a destruição de Jerusalém.

Consequências para os cristãos

Após a destruição do Templo e de Jerusalém, o judaísmo e o cristianismo seguiram por caminhos cada vez mais separados. A destruição do Templo teve um impacto devastador sobre o judaísmo, que era centrado no culto do Templo. Os judeus tiveram que reorganizar sua religião, que passou a se concentrar mais nas sinagogas e no estudo da Torá.

Para os cristãos, a destruição do Templo também teve significado teológico. Muitos cristãos da época interpretaram o evento como uma confirmação das profecias de Jesus sobre o fim do sistema religioso centrado no Templo e a transição para uma nova aliança baseada na fé em Cristo. Esse evento contribuiu ainda mais para a separação entre os cristãos judeus e os judeus que não aceitavam Jesus como o Messias.

Assim, durante a destruição do Segundo Templo, muitos dos cristãos provavelmente estavam refugiados em Pella ou em outras regiões fora de Jerusalém, tendo fugido antes do cerco, enquanto aqueles que permaneceram na cidade provavelmente compartilharam do sofrimento que ocorreu durante o conflito.

 

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