Evangelho de Maria Madalena é Verdadeiro?

O Evangelho de Maria Madalena é uma obra que, embora pouco conhecida, desperta grande interesse entre estudiosos, historiadores e teólogos devido à sua abordagem única e ao papel central que atribui a uma das seguidoras mais próximas de Jesus.

Esse texto pertence ao conjunto de escritos apócrifos, ou seja, aqueles que não foram incluídos no Novo Testamento pela Igreja primitiva e que, por isso, não fazem parte do cânone bíblico oficial.

O manuscrito mais conhecido do Evangelho de Maria foi descoberto no final do século XIX em um papiro egípcio e data do século II d.C., indicando que suas raízes podem remontar às primeiras gerações de cristãos.

A Verdade Sobre o Evangelho de Maria Madalena

O Evangelho de Maria Madalena é um dos chamados textos apócrifos, ou seja, não faz parte do cânone oficial da Bíblia. Esse evangelho é considerado um dos escritos gnósticos, datando de aproximadamente os séculos II ou III, e foi encontrado em fragmentos em 1896 em um papiro chamado Papiro de Berlim.

Autenticidade e Veracidade

• Histórica: O evangelho é um documento genuíno do início da era cristã, no sentido de que realmente existiu e reflete as ideias gnósticas daquele período.

No entanto, não se acredita que tenha sido escrito por Maria Madalena ou que tenha relação direta com os apóstolos originais.

• Doutrinária: O Evangelho de Maria Madalena não é considerado “verdadeiro” dentro da tradição cristã ortodoxa. A Igreja Católica e a maioria das denominações protestantes não o reconhecem como parte das escrituras sagradas.

Ele não foi incluído no Novo Testamento, pois não atende aos critérios que os primeiros líderes da Igreja usaram para definir o cânone bíblico (como autenticidade apostólica e conformidade doutrinária).

Evangelho de Maria Madalena: o Conteúdo e sua Estrutura

O evangelho está fragmentado, o que dificulta uma compreensão completa de seus ensinamentos. No entanto, as partes que sobreviveram oferecem uma visão rica e única da comunidade cristã primitiva. Maria Madalena, que muitas vezes é mencionada nos evangelhos canônicos como uma seguidora fiel de Jesus e a primeira testemunha da ressurreição, aqui surge como uma líder com acesso a ensinamentos secretos de Jesus. O texto a descreve respondendo às dúvidas dos outros discípulos e compartilhando uma sabedoria que eles, em alguns momentos, relutam em aceitar.

A obra aborda principalmente temas relacionados ao autoconhecimento, à ascensão da alma e à busca pela iluminação espiritual. Em um trecho significativo, Maria explica uma visão que recebeu de Jesus sobre a jornada da alma após a morte e as barreiras espirituais que ela deve superar para alcançar a verdadeira liberdade. Essa narrativa destaca a ênfase do evangelho em uma conexão espiritual direta com o divino, mais do que em rituais ou dogmas.

Trecho do evangelho de Maria Madalena:

“Então a alma continuou sua jornada e encontrou a segunda barreira, conhecida como Desejo. E a alma perguntou: ‘Quem és tu que me prende?’ E o Desejo respondeu: ‘Eu sou quem desejou por ti e por onde passei, mas agora me venci e não permanecerei em ti.’ A alma disse: ‘Eu não te conheci como uma sombra passageira, mas como uma verdade ilusória.’ E assim, tendo passado por essa barreira, a alma subiu mais adiante, enfrentando o terceiro poder, que é a Ignorância.”

A Relação entre Maria Madalena e os Outros Discípulos

Um aspecto intrigante do Evangelho de Maria é o conflito que ele descreve entre Maria e alguns dos outros apóstolos, especialmente Pedro. O texto reflete tensões dentro da comunidade primitiva sobre liderança e autoridade espiritual, onde Maria é apresentada como uma figura que desafia as normas estabelecidas, suscitando a resistência de Pedro, que questiona por que Jesus revelaria ensinamentos importantes a uma mulher.

Esse conflito pode refletir debates históricos sobre o papel das mulheres na liderança da igreja primitiva e sugere que a comunidade cristã original pode ter sido mais diversa em termos de liderança do que a história tradicional aponta.

Abaixo, um trecho importante e considerado polêmico do Evangelho de Maria:

“Pedro disse a Maria: ‘Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que às outras mulheres. Dize-nos as palavras do Salvador que te lembras, aquelas que conheces e que nós não, pois não as ouvimos.’ Maria respondeu e disse: ‘Direi a vocês o que está escondido de vocês.’”

Após compartilhar sua visão e os ensinamentos recebidos, Maria enfrenta a resistência de alguns discípulos, especialmente de Pedro:

“Pedro questionou: ‘Será mesmo que ele falou secretamente a uma mulher e não abertamente a nós? Devemos todos nos virar e ouvir ela? Ele preferiu ela a nós?’”

Esse trecho é significativo por mostrar um conflito sobre a autoridade e liderança de Maria Madalena, destacando sua proximidade com Jesus e a resistência que enfrentava de outros discípulos, o que levanta questões sobre o papel das mulheres no cristianismo primitivo.

A reação de Pedro sugere que havia disputas internas sobre quem detinha a verdadeira compreensão dos ensinamentos de Jesus e quem poderia ser considerado uma liderança espiritual.

A Mensagem Espiritual do Evangelho

O Evangelho de Maria Madalena coloca uma forte ênfase no conhecimento interno e na iluminação pessoal como caminho para a salvação. Em contraste com as narrativas focadas na obediência e nas estruturas institucionais, o texto propõe que cada indivíduo tem o potencial de alcançar a compreensão divina através da introspecção e da conexão direta com o ensinamento de Cristo. Essa perspectiva é considerada por muitos estudiosos como uma característica gnóstica, já que o gnosticismo valoriza o conhecimento espiritual e a busca por uma compreensão pessoal de Deus.

A Importância para os Estudos Contemporâneos

Hoje, o Evangelho de Maria Madalena tem um papel fundamental em debates sobre o papel das mulheres na igreja e sobre as diversas interpretações da mensagem de Jesus nos primeiros séculos do cristianismo. A visão que o evangelho apresenta de Maria Madalena como uma líder espiritual com profunda autoridade desafia as narrativas tradicionais que a reduzem a um papel de menor relevância. Para muitas pessoas, este texto oferece uma oportunidade de refletir sobre como a voz feminina e as experiências espirituais podem ter sido mais centrais no movimento cristão original do que se acreditava anteriormente.

Além disso, o evangelho tem sido usado como uma fonte de inspiração e empoderamento, destacando a importância do conhecimento interior e da liderança baseada na compaixão e na sabedoria. A obra é um lembrete de que o cristianismo primitivo era multifacetado, com diferentes interpretações e práticas espirituais que competiam e coexistiam em um período de intensa formação religiosa.

Este aprofundamento revela a riqueza teológica e histórica do Evangelho de Maria Madalena e sua relevância para a compreensão mais ampla do cristianismo primitivo e das diversas vozes que compuseram seu desenvolvimento.

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