Do ponto de vista da arqueologia e da pesquisa histórica, não há evidências conclusivas que sugiram que o Jesus histórico era analfabeto. Contudo, o debate sobre a alfabetização de Jesus é complexo e envolve diferentes disciplinas, como a história, a teologia e os estudos culturais do judaísmo do século I.
3 Fatores que Sugerem que Jesus Poderia Ser Alfabetizado
1. Tradição judaica de ensino
Jesus cresceu em um ambiente judaico, e a educação básica em algumas regiões da Galileia incluía instrução religiosa. Jovens judeus aprendiam a ler e recitar as Escrituras hebraicas na sinagoga. Como rabino e mestre, Jesus tinha uma posição de liderança que implicava, segundo muitos estudiosos, a habilidade de ler textos religiosos.
Se Jesus sabia escrever, por que ele mesmo não escreveu seus ensinamentos?
É verdade que os seguidores de Jesus eram, em grande parte, pessoas simples, de camadas sociais mais baixas, e muitos provavelmente eram analfabetos. No entanto, essa não é a única razão pela qual Jesus não deixou registros escritos por ele mesmo.
Alguns pontos importantes sobre essa questão:
• Tradição oral predominante
No século I, a cultura judaica era fortemente baseada na transmissão oral de ensinamentos religiosos e histórias. A tradição oral era a principal forma de preservar e transmitir informações em muitas sociedades antigas, e Jesus, como mestre e rabino, teria ensinado seus seguidores dessa forma, utilizando parábolas e ensinamentos verbais.
• Baixa alfabetização
É provável que muitos dos seguidores de Jesus fossem analfabetos, especialmente porque a alfabetização na Judeia e Galileia da época era restrita a uma pequena parte da população, principalmente as elites religiosas e sociais. Esse fato pode explicar porque a mensagem de Jesus foi transmitida oralmente antes de ser registrada por escrito por seus discípulos décadas após sua morte.
• Ênfase em sua missão e não em escritos pessoais
A missão de Jesus era claramente centrada na proclamação do Reino de Deus, na cura de enfermos e na libertação dos oprimidos, conforme seus próprios ensinamentos. Ele não se preocupou em deixar um legado de textos escritos, mas sim em formar discípulos que espalhariam sua mensagem, seja pela palavra falada ou, posteriormente, pelos escritos deles.
Portanto, a ausência de registros escritos deixados por Jesus pode ser explicada tanto pela cultura da época quanto pela forma como ele escolheu transmitir sua mensagem. Seus seguidores, principalmente os evangelistas e outros líderes cristãos, mais tarde escreveriam sobre sua vida e ensinamentos, o que resultou nos Evangelhos e outras partes do Novo Testamento.
2. Passagens do Novo Testamento
Há momentos nos Evangelhos onde Jesus lê ou faz referência direta às Escrituras, como em Lucas 4:16-21, quando ele lê o rolo do profeta Isaías em uma sinagoga em Nazaré. Essas passagens, porém, podem ser interpretadas de várias formas e podem ser influenciadas por uma moldura teológica posterior.
O texto de Lucas 4:16-21 está incorreto?
Até hoje não foi encontrada evidência arqueológica de uma sinagoga do século I em Nazaré. Essa ausência levanta dúvidas entre estudiosos sobre a precisão de Lucas 4:16-17, onde Jesus lê o rolo de Isaías na sinagoga de Nazaré. A cidade de Nazaré, na época, era uma pequena aldeia agrícola e há poucas descobertas que indicam estruturas significativas que datam do século I.
Por outro lado, é importante considerar que a ausência de evidências arqueológicas não necessariamente invalida o relato bíblico. A arqueologia depende de muitos fatores, como a preservação e a escavação de certos locais, e muitos sítios permanecem inexplorados ou sob áreas habitadas, como Nazaré, que continuou sendo ocupada ao longo dos séculos. Escavações em Nazaré revelaram algumas descobertas que indicam uma ocupação no período de Jesus, como casas, túmulos e artefatos que datam da época do Segundo Templo, mas nenhuma sinagoga foi identificada  .
Além disso, algumas cidades menores na época poderiam ter tido estruturas informais usadas como locais de culto que não teriam deixado traços evidentes para os arqueólogos. Os evangelhos podem estar refletindo uma tradição comunitária oral que não correspondia necessariamente a grandes edifícios ou sinagogas formais.
A tradição religiosa em Nazaré, de acordo com o relato, pode ter envolvido pequenas reuniões em espaços de culto comunitários que não deixaram marcas estruturais que sobreviveram até hoje.
3. Uso das Escrituras nos ensinamentos
Jesus frequentemente citava as Escrituras, o que pode sugerir um conhecimento profundo dos textos. No entanto, isso não necessariamente implica a habilidade de ler, pois a tradição oral era muito forte naquela época.
2 Fatores que Sugerem que Jesus Poderia Ser Analfabeto
1. Baixos índices de alfabetização
No contexto do século I, especialmente em áreas como a Galileia, os níveis de alfabetização eram extremamente baixos, particularmente entre camadas mais pobres da população. É possível que, como muitos da sua classe social, Jesus tivesse uma educação limitada, dependendo da transmissão oral das Escrituras e ensinamentos religiosos.
2. Falta de registros diretos
Jesus não deixou escritos próprios, e os Evangelhos foram compostos décadas após sua morte, por autores que provavelmente eram mais letrados. A ausência de documentos escritos diretamente por Jesus pode sugerir que ele não era alfabetizado ou que não priorizou a escrita.
Em resumo, embora a arqueologia e os estudos históricos não possam fornecer uma resposta definitiva, a visão predominante entre muitos estudiosos é que, enquanto a alfabetização era rara entre camponeses e artesãos da época, é possível que Jesus tivesse algum nível de alfabetização, especialmente no contexto religioso, mas também é plausível que ele dependesse fortemente da tradição oral para seus ensinamentos.
Artigos de Referência: