A História de José do Egito – de Escravo a Governador do Egito (Parte II)

Como vimos na primeira parte de ” A História de José do Egito – Sonhos Proféticos e Traição “, os irmãos de José, movidos pelo ciúme, inicialmente planejaram matá-lo, mas acabaram decidindo vendê-lo como escravo a uma caravana de ismaelitas que estavam indo para o Egito.

A Mentira Sobre a Morte de José do Egito

Eles então enganaram Jacó, fazendo-o acreditar que José havia sido morto por um animal selvagem.

Antes de vender José, os irmãos tiraram dele a túnica especial que Jacó lhe deu, a famosa “túnica de vários núcleos” (ou “túnica longa” em algumas traduções).

Após vender José, os irmãos mataram um cabrito e mergulharam na túnica de José no sangue do animal. Esse detalhe foi crucial para tornar sua história convincente.

Jacó chora ao ver a túnica de José, seu filho. Gênesis 37:33
Jacó registrou a túnica de José e conclui que ele foi atacado por uma fera selvagem.

Os irmãos levaram uma túnica ensanguentada de volta para casa e ofereceram a Jacó. Eles não relataram diretamente que José havia sido morto, mas apresentou uma túnica manchada de sangue, permitindo que Jacó tirasse suas próprias contribuições.

Eles disseram:

“Achamos isto; vê agora se é a túnica de teu filho ou não” (Gênesis 37:32) .

Jacó recebeu imediatamente a túnica como sendo de José e, ao ver o sangue, concluiu que seu filho havia sido atacado e morto por um animal selvagem. Ele lamentou profundamente a perda de José, rasgando suas vestes e usando-se de saco em sinal de luto. Jacó ficou inconsolável, dizendo que desceria ao Sheol (mundo dos mortos) lamentando por seu filho.


Explicação

Era costume na antiga cultura hebraica rasgar as próprias roupas e vestir-se com saco (pano de saco) durante o luto. Essas práticas simbolizavam a profunda dor e o sofrimento de quem estava de luto.

Rasgar como Roupas (Kriah)

Simbolismo

Rasgar as roupas era um gesto simbólico de dor e desespero. O ato físico de rasgar o tecido representava o coração partido e a profunda tristeza pela perda de um ente querido.

Prática

Normalmente, uma pessoa enlutada rasgava a roupa na frente do peito, e esse rasgo era deixado visível para que outros soubessem que a pessoa estava de luto. Esse gesto também expressava a irreparabilidade da perda.

 

Vestir-se com Pano de Saco

Simbolismo

O pano de saco, feito de um material grosseiro e áspero, como pelo de cabra, foi usado para demonstrar humildade, arrependimento e tristeza. Era um contraste significativo com as roupas normais, que eram mais confortáveis ​​e finas.

Prática

Durante períodos de luto ou arrependimento, as pessoas usavam roupas feitas de pano de saco. Às vezes, também se sentavam em cinzas ou colocavam cinzas sobre a cabeça, intensificando ainda mais o símbolo de tristeza e arrependimento.

 

Referências Bíblicas

Jacó:

“Quando Jacó acreditou que José havia sido morto, ele rasgou suas roupas e vestiu-se de saco.”
(Gênesis 37:34)

Outros exemplos:

Existem outros exemplos na Bíblia onde essas práticas são mencionadas, como quando Davi lamentou a morte de Saul e Jônatas (2 Samuel 1:11-12) e quando os habitantes de Nínive se vestiram de saco em sinal de arrependimento após a pregação de Jonas ( Jonas 3:5-6).


Na Casa de Potifar

José foi vendido como escravo para Potifar, oficial do faraó e capitão da guarda. Na casa de Potifar, José prosperou devido à sua diligência e à vitória de Deus, eventualmente sendo colocado como responsável por todos na casa de Potifar.

A esposa de Potifar tentou seduzir José, mas ele resistiu. Frustrada, ela o acusou falsamente de tentar abusar dela. Potifar acreditou na acusação e mandou José para a prisão.

 

Na Prisão com o Copeiro e o Padeiro do Faraó

Na prisão, José interpretou os sonhos de dois oficiais do faraó — o copeiro e o padeiro. Suas interpretações provaram ser precisas: o copeiro foi restaurado ao sua carga, e o padeiro foi executado, conforme José havia predito.

José do Egito interpreta os sonhos dos prisioneiros. Gênesis 40:8
Este versículo descreve o momento em que José conversa com os prisioneiros, que haviam tido sonhos perturbadores, e ele se oferece para interpretar esses sonhos com a ajuda de Deus.

 

Interpretação dos Sonhos do Faraó

Dois anos depois, o faraó teve dois sonhos perturbadores que ninguém conseguia interpretar. O copeiro lembrou-se de José e demonstrou suas habilidades interpretativas ao faraó. José foi chamado e, com a ajuda de Deus, interpretou os sonhos como uma previsão de sete anos de abundância seguida por sete anos de fome.


Explicação

A interpretação dos sonhos tem uma importância significativa na religião judaica, especialmente no contexto das narrativas bíblicas e das tradições rabínicas. Os sonhos são vistos como possíveis canais de comunicação divina e como veículos para transmitir mensagens importantes. Aqui estão alguns aspectos da importância da interpretação dos sonhos na religião judaica:

1. Narrativas Bíblicas

José do Egito

A história de José, encontrada no livro de Gênesis, é um dos exemplos mais notáveis. José interpreta os sonhos de seus companheiros de prisão (o copeiro e o padeiro do faraó) e, posteriormente, os sonhos do próprio faraó. Suas interpretações não apenas preveem acontecimentos futuros, mas também levam a uma posição de grande poder e responsabilidade, salvando o Egito e sua própria família da fome.

Daniel

No livro de Daniel , o profeta interpreta os sonhos do rei Nabucodonosor. As interpretações de Daniel revelam planos divinos e eventos futuros, reforçando a crença de que os sonhos são mensagens de Deus.

 

2. Mensagens Divinas

Comunicação com Deus

Na tradição judaica, os sonhos são frequentemente vistos como uma maneira pela qual Deus pode se comunicar com os seres humanos. Isso é especialmente verdadeiro para figuras importantes, como patriarcas, profetas e reis.

 

Revelações e Profecias

Alguns sonhos bíblicos são proféticos, revelando o futuro ou transmitindo orientações importantes divinas. Por exemplo, os sonhos de Jacó com a escada que chega ao céu (Gênesis 28:12) e os sonhos de José que previram sua futura ascensão ao poder.

 

3. Interpretação Rabínica

Talmude

O Talmud contém várias discussões sobre a natureza dos sonhos e sua interpretação. Em Berakhot 55-57, há debates sobre se os sonhos são indicados ou não, e como devem ser interpretados. Com certeza argumentamos que alguns sonhos podem ter significado divino, enquanto outros podem ser simplesmente reflexos das atividades e pensamentos diários.

Diretrizes para Interpretação

Os rabinos estabeleceram diretrizes e métodos para a interpretação dos sonhos, reconhecendo que nem todos os sonhos têm origem divina, mas aqueles que têm podem conter verdades importantes.

 

4. Sonhos como Reflexões Psicológicas

Reflexo do Inconsciente

Embora haja uma forte tradição de sonhos interpretados como mensagens divinas, há também um reconhecimento de que os sonhos refletem os pensamentos, medos e desejos inconscientes da pessoa.

Auto-reflexão

A análise dos sonhos pode ser uma forma de auto-reflexão e compreensão pessoal, ajudando os indivíduos a obter insights sobre seus próprios estados mentais e emocionais.

 

5. Práticas Contemporâneas

Cultura Judaica Moderna

Na prática judaica contemporânea, a interpretação dos sonhos pode não ter o mesmo peso profético que tinha nos tempos bíblicos, mas ainda há um interesse cultural e espiritual em entender os sonhos. Algumas comunidades e indivíduos podem consultar rabinos ou estudiosos para ajudar na interpretação de sonhos importantes.

 

Conclusão

A interpretação dos sonhos é um aspecto profundamente enraizado na tradição judaica, com raízes bíblicas e desenvolvimentos rabínicos que destacam sua importância como uma possível forma de comunicação divina e introspecção pessoal. Através das histórias de figuras como José e Daniel, e das publicações talmúdicas, os sonhos são vistos como um meio potencial de revelação e orientação espiritual.


José é Nomeado Governador do Egito

Impressionado com a sabedoria de José, o faraó o nomeou governador do Egito, carregando-o de preparar o país para os anos de fome. José implementou um plano para armazenar grãos durante os anos de abundância.


Explicação

Como um israelita tornou-se governador do Egito? Isso era permitido?

é possível que o faraó do Egito na época em que José se tornou governador fosse um rei hicsos. Os hicsos foram um povo semita que invadiu e governou o Egito durante o Segundo Período Intermediário, aproximadamente entre 1650 e 1550 aC. Eles estabeleceram a 15ª dinastia e governaram principalmente a região do delta do Nilo, com a cidade de Avaris como sua capital.

Evidências e Contexto

1. Semelhanças Culturais e Étnicas

Origem Semita

José e sua família eram hebreus, também de origem semita. Se os hicsos, sendo um povo semita, estando sem poder, isso poderia ter facilitado a ascensão de José na corte egípcia, dado um possível entendimento e profundidade cultural.

Migração e Integração

A Bíblia menciona que os irmãos de José migraram para o Egito e se estabeleceram na terra de Gósen. Um governo hicsos poderia ter sido mais receptivo à integração de outros povos semitas.

 

2. Cronologia e Correspondência Histórica

Datando a História de José

A cronologia exata da história de José é difícil de determinar, mas algumas estimativas a colocar durante o Segundo Período Intermediário. Esse período coincide com o domínio dos hicsos sobre o norte do Egito.

História e Arqueologia

Embora a arqueologia ainda não tenha fornecido provas definitivas de José ou de eventos específicos descritos na Bíblia, a coexistência de governantes hicsos durante esse período é uma possibilidade considerada por alguns estudiosos.

 

3. Características do Reinado Hicsos

Abertura para Estrangeiros

Os hicsos são conhecidos por terem incorporado muitos elementos culturais e tecnológicos de outras civilizações, incluindo aqueles do Oriente Próximo, o que sugere uma certa abertura a influências externas.

Práticas Administrativas

As práticas administrativas e a organização econômica durante o domínio hicsos poderiam ter permitido a ascensão de indivíduos talentosos, independentemente de sua origem étnica.

 

Considerações Contrarias

1. Falta de Evidências Concretas

Ausência de Evidências Diretas

Não há evidências diretas de que liguem José especificamente a um faraó hicsos ou a qualquer faraó identificado pela arqueologia.

Interpretações Alternativas

Alguns estudiosos preferem outras cronologias que colocam José em períodos diferentes da história egípcia, argumentando que uma narrativa pode ter se baseada em tradições orais e foi posteriormente incorporada ao texto bíblico.

 

2. Debates Acadêmicos:

Variedade de Teorias

A identificação do faraó da época de José é tema de muito debate e várias teorias. Alguns estudiosos propõem outros períodos e dinastias, refletindo a complexidade da cronologia egípcia e da interpretação bíblica.

Conclusão

Embora não haja consenso científico definitivo, a possibilidade de que o faraó durante a época de José fosse um governante hicsos é uma teoria plausível baseada em considerações cronológicas e culturais. Os hicsos, sendo de origem semita e governando durante um período em que José poderia ter vivido, oferecem um contexto no qual a ascensão de um estrangeiro à alta administração do Egito seria mais compatível. No entanto, a falta de provas arqueológicas específicas significa que esta possibilidade permanece entre várias possibilidades.


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